Pornografia faz mal?
- Milene Couto
- 3 de jun. de 2024
- 4 min de leitura
Primeiro, é importante entender o que acontece no seu cérebro quando você consome pornografia.
Dopamina: A pornografia pode causar uma liberação significativa de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa. Esta liberação intensa de dopamina pode reforçar o comportamento de assistir pornografia, levando ao consumo repetitivo.
Tolerância: Com o tempo, o cérebro pode desenvolver uma tolerância à pornografia, necessitando de estímulos mais intensos ou variados para obter a mesma resposta de prazer.
Recompensa cerebral. Quando mais doses, mais estímulos preciso pra que aquilo me deixe saciado, satisfeito, por isso é tão tênue a linha do consumo saudável e do vício, porque pode fugir do controle.
Mudanças na Estrutura Cerebral
Redução da Massa Cinzenta: Estudos mostraram que o consumo excessivo de pornografia pode estar associado a uma redução da massa cinzenta no cérebro, particularmente na região do estriado, que é parte do sistema de recompensa.
Alterações na Conectividade Cerebral: Pode haver alterações na conectividade entre diferentes regiões do cérebro, como entre o córtex pré-frontal e o sistema de recompensa, afetando o controle dos impulsos e a tomada de decisões. Segundo um estudo realizado pela Universidade de Duisburg-Essen, e publicado no periódico Journal of Sex Research, após o envolvimento contínuo com pornografia, algumas pessoas relataram problemas como dificuldade para dormir e esquecimento de compromissos.
Além disso, de acordo com outra pesquisa realizada pelo periódico, assistir pornografia também pode fazer com que as pessoas valorizem recompensas imediatas — e quanto mais tempo se tem que esperar para recebê-las, menos valiosa ela se torna.
Impacto no Córtex Pré-Frontal O córtex pré-frontal é crucial para o autocontrole e a tomada de decisões. O consumo excessivo de pornografia pode enfraquecer essa área, tornando mais difícil resistir a impulsos e comportamentos compulsivos.
Pode haver uma diminuição das funções executivas como planejamento, organização e controle emocional.
O cérebro é altamente plástico e adapta-se aos hábitos
O consumo repetitivo de pornografia pode levar à formação de circuitos neurais que reforçam esse comportamento, tornando-o um hábito difícil de quebrar. Prazer imediato (que resulta em vício).
O cérebro pode associar a pornografia a sentimentos de prazer e recompensa, aumentando a probabilidade de recorrer a ela em momentos de estresse ou tédio. O vício em pornografia é uma compulsão e, às vezes, até mesmo uma fuga da realidade, de uma depressão ou de uma ansiedade. Geralmente, tem muita relação com transtornos psiquiátricos, como qualquer outro tipo de abuso
Impacto na Sexualidade e nas Relações Interpessoais
Expectativas Irrealistas: A pornografia pode criar expectativas irrealistas sobre o sexo e o corpo humano, afetando a satisfação sexual e a intimidade em relacionamentos reais. Os meninos, principalmente, crescem com esses modelos performáticos de sexo, de corpos perfeitos, que não condizem com a realidade
Dificuldades de Intimidade: Pode levar a dificuldades em formar e manter conexões emocionais e íntimas com parceiros reais.
Disfunção Erétil, ejaculação precoce ou retardada: Em alguns casos, o consumo excessivo de pornografia pode levar a problemas como disfunção erétil induzida por pornografia (PIED), onde a excitação sexual só é alcançada através da pornografia e não com parceiros reais, devido à forma como o cérebro se adapta ao estímulo artificial.
O perigo está naqueles que buscam na pornografia muitos estímulos num curto espaço de tempo. Essa hiperestimulação produz um padrão similar ao de viciados em drogasSegundo, é importante entender o que está por tras da indústria pornográfica.
Exploração: Muitos atores e atrizes pornográficos enfrentam condições de trabalho exploradoras. Eles podem ser pressionados a realizar atos que não querem ou que não foram inicialmente acordados.
Coerção:Em alguns casos, indivíduos são forçados ou manipulados a entrar na indústria pornográfica, às vezes devido a situações de vulnerabilidade financeira ou emocional.
Tráfico de Pessoas Tráfico Sexual: A indústria pornográfica pode estar ligada ao tráfico de pessoas, onde indivíduos são forçados a participar da produção de pornografia contra sua vontade.
Engano e Fraude: Algumas pessoas são atraídas para a indústria por promessas de trabalho legítimo e depois forçadas a participar de produções pornográficas.
As condições de trabalho: podem ser inseguras, com riscos à saúde física e mental dos performers. Isso inclui a exposição a doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e lesões físicas.
Falta de Direitos Trabalhistas: Muitos trabalhadores da indústria pornográfica não têm acesso a direitos trabalhistas básicos, como seguro de saúde, proteção contra assédio e condições de trabalho seguras.
O sexo pornográfico demonstra ausência de consentimento e de práticas sexuais seguras. “Uma estimativa aponta que 95% dos materiais compartilhados nos sites gratuitos são piratas, ou seja, sem autorização das partes ou com violação dos direitos autorais”.
Construção de uma sexualidade violenta, já que a maior parte desses vídeos apresentam relações com violência. Cerca de 90% dos filmes mais populares contém cenas de agressão física.
A tolerância é afetada: Quando o consumidor não consegue mais alcançar satisfação e sente a necessidade de migrar para conteúdos mais violentos e bizarros.
O pornô é o inimigo, mas não a masturbação
A masturbação é uma prática comum e natural que pode ter vários benefícios para a saúde quando realizada sem o uso de pornografia.
Os consumidores de pornografia geralmente se masturbam de forma errada, compulsivamente. Essa deve ser uma prática de autoconhecimento, de atenção plena e de conhecimento do próprio corpoComo saber se eu tenho vício em pornografia?
Estabelecer um período de “jejum” como uma auto-observação, sugiro 30 dias. Ao longo desse tempo, a pessoa conseguiu ficar sem?
Precisou fazer grandes esforços para isso?
Foi difícil? Se as respostas forem ‘sim’, então pode ser um possível vício.
Descubra o que te faz querer acessar o pornô: tédio? Frustração? Quais são as principais horas e dias?
No início, pode ser difícil reconhecer a existência de um vício em pornografia, mas é indispensável procurar apoio profissional quando ele começa a afetar a qualidade de vida, interferindo em suas relações pessoais, profissionais ou prejudicando a saúde física e mental.
Para quem chega no ponto do vício, as especialistas ponderam a necessidade um tratamento multidisciplinar de controle. É preciso entender que existe essa angústia e ela só pode ser tratada pelo adicto, então é importante buscar ajuda de um profissional, como sexólogo, psiquiatra, psicólogo ou psicanalista.
Milene Couto
Psicanalista e sexóloga









Adorei! Bem informativo! :)